O Problema da Resistência aos Antibióticos | This Organic Lab

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Na semana passada, entre 13 e 19 de Novembro, decorreu A Semana Mundial dos Antibióticos, sendo esta uma iniciativa organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), englobando o Dia Europeu dos Antibióticos.

O seu principal objectivo é sensibilizar para a utilização correta dos antibióticos, sendo esta uma responsabilidade de todos, cidadãos e profissionais de saúde envolvidos na sua prescrição e distribuição, a nível humano e animal, contribuindo desta forma para a diminuição da resistência das bactérias aos antibióticos.

O que são e para que servem os antibióticos?

Os antibióticos são substâncias químicas que têm a capacidade de impedir a multiplicação de bactérias ou de as destruir, sendo totalmente ineficazes contra os vírus, como é o caso das gripes e constipações. É uma das classes de medicamentos mais prescritas e consumidas em todo o mundo.

O que é a resistência a antibióticos?

A resistência a antibióticos é a capacidade das bactérias combaterem a acção de um ou mais antibióticos. Os humanos e os animais não se tornam resistentes aos tratamentos com antibióticos, mas tal pode acontecer às bactérias de que os seres humanos e os animais são portadores.

A Penicilina foi o primeiro antibiótico, descoberto por Flemming em 1928. Com a evolução da medicina, vários foram os antibióticos descobertos, visando destruir mais bactérias com menos efeitos secundários.

Não servem para tratar febre, dores musculares, de cabeça ou garganta, existindo alternativas terapêuticas, inclusivamente preventivas, para esses sintomas.

Antibióticos não tratam gripes e constipações

Existem bactérias e vírus em toda a parte na Natureza, inclusivamente no corpo humano. Na sua maioria são, no entanto, inofensivos, e multiplicam-se rapidamente no nosso organismo. Os antibióticos podem bloquear a capacidade das bactérias se multiplicarem. Não são capazes de actuar sobre vírus.

Porque existe resistência das bactérias aos antibióticos?

Ao tomarmos um antibiótico, este vai agir contra as bactérias no nosso corpo que são sensíveis ao antibiótico, acabando por morrer. No entanto, ao realizarem o seu processo de multiplicação, algumas bactérias sofrem modificações (mutações), tornando-se resistentes a esse antibiótico. As bactérias que se multiplicaram nesta fase, dando origem a células-filha, vão ser todas resistentes a esse antibiótico, deixando o mesmo de ser eficaz.

Quanto mais um antibiótico for utilizado, maior a probabilidade de se desenvolverem resistências à sua acção.

Podem ainda existir bactérias multirresistentes ou “superbactérias” porque se tornam resistentes a vários antibióticos, dificultando o tratamento e obrigando muitas vezes a internamento hospitalar.

O seu aparecimento deve-se a diversos factores, nomeadamente:

  • Incumprimento da duração do tratamento;
  • Incumprimento da posologia (dose e frequência);
  • Utilização excessiva e inadequada devido à incerteza no diagnóstico. De acordo com a OMS mais de metade dos antibióticos são prescritos de forma inadequada;
  • Nível elevado de auto-medicação, em que os doentes utilizam frequentemente antibióticos de tratamentos anteriores ou obtidos na farmácia sem prescrição médica;
  • Uso crescente de antibióticos em actividades como a veterinária, a zootecnia e a pecuária, verificando‐se que aproximadamente 50% da totalidade dos agentes antimicrobianos consumidos na União Europeia não são utilizados em humanos.

Em alguns casos, apenas existe 1 ou 2 possibilidades de escolha de antibióticos ainda eficazes, enquanto para outros já não existe, actualmente, tratamento.

Como ocorre a transmissão da resistência aos antibióticos?

As bactérias desenvolvem resistências a antibióticos como uma reacção adaptativa natural.  O tratamento de uma bactéria resistente é sempre mais difícil de combater, pois será necessário utilizar um antibiótico mais “potente”. 

Deste modo, o uso irresponsável de antibióticos pode contribuir para essa transformação. Devemos ter especial atenção ao seu uso na produção animal e de alimentos, nas instituições de saúde e na comunidade.

Como ocorre a transmissão da resistência aos antibióticos?

A resistência bacteriana aos antibióticos é actualmente um dos problemas de saúde pública mais relevantes do século XXI. E apesar das melhorias significativas, Portugal continua a ser um dos países da União Europeia onde mais se utilizam antibióticos e onde há menos conhecimento sobre a sua utilização.

Os dados mais recentes confirmam que o número de doentes infectados por bactérias resistentes está a aumentar na União Europeia e que a resistência aos antibióticos constitui uma grave ameaça para a saúde pública.

Os dados divulgados esta quarta-feira pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC), sobre a frequência de bactérias multirresistentes na Europa, revelaram que em 2016 existe uma maior percentagem da bactéria Klebsiella pneumoniae multirresistente.

Em 2016, Portugal possui uma maior percentagem de Klebsiella pneumoniae multirresistente (a vários antibióticos de terceira linha)

Desta forma, o uso prudente dos antibióticos pode ajudar a impedir o desenvolvimento destas bactérias resistentes e a manter os antibióticos eficazes para uso nas gerações futuras.

Porque é que a resistência aos antibióticos é considerada uma ameaça para a Saúde Pública?

  • 25 000 doentes morrem por ano na União Europeia devido a infecções causadas por bactérias resistentes, sendo que este número pode chegar até 700 000 doentes por ano a nível mundial;
  • Em 2050 estima-se que morram 10 milhões de pessoas em todo o Mundo com infecções causadas por bactérias resistentes, se esta situação não for revertida.

Qual o impacto na economia da resistência de antibióticos?

  • 1.5 mil milhões €/ano na UE;
  • 10 000 a 40 000 dólares/doente em gastos hospitalares nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico).

O que pode fazer para reduzir as bactérias resistentes?

  • Não tome logo antibióticos quando tiver febre, dor de cabeça ou garganta. A maioria das situações de febre são causadas por vírus e passam ao fim de 3 a 4 dias. Em caso de dúvidas, consulte um profissional de saúde.
  • Não utilize antibióticos sem a devida prescrição médica.
  • Não utilize antibióticos que sobraram de tratamentos anteriores nem de outras pessoas.
  • Questione sempre para que infecção está a usar o antibiótico.
  • Cumpra cuidadosamente a duração do tratamento e o horário das tomas. Se por acaso esquecer alguma toma, recomece logo que possível e faça um acerto de horários de seguida.
  • Se sobrarem embalagens de antibióticos, não guarde em casa nem deite fora. Devolva-os numa farmácia.
  • Cozinhe bem a carne e o peixe, não os deixando crus. O calor vai inactivar os resíduos de antibióticos que possam ainda existir nestes. Consuma preferencialmente alimentos biológicos.
  • Lave bem os vegetais para eliminar possíveis resíduos existentes. Mais uma vez, termos consciência da origem e onde compramos, poderá ajudar a proteger a nossa saúde.
  • A água pode possuir resíduos de antibióticos, pelo que pode optar por ferver a água ou possuir um sistema doméstico de tratamento de água que ajude a eliminar os antibióticos (como o sistema de tratamento eSpring).
  • Lave bem as mãos antes das refeições, depois de utilizar locais públicos (como casas de banho) ou após contacto com animais.
  • Em estabelecimentos de saúde, como hospitais, centros de saúde, unidades de diálise, centros de dia, lares e residências, lave sempre as mãos após contactar com doentes ou superfícies.
  • Garanta sempre uma adequada higiene corporal, do vestuário, hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis.

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Diana Gomes

Dina Mendes

Andreia Pereira

Susana Veloso

Bibliografia:

Ordem dos Farmacêuticos

Programa Nacional de Controlo da Infecção da Direcção Geral de Saúde

Antimicrobial Resistance – A major European and Global Challenge, European Comission, 2017

Notícia: A Ameaça Global que a Resistência a Antibióticos Representa

A crescente ameaça da resistência antimicrobiana – Opções de acção, Organização Mundial de Saúde, 2017

World Bank: Drug-Resistant Infections – A threat to Our Economic Future, September 2016

WHO: World Antibiotic Awareness Week

European Centre for Disease Prevention and Control. ECDC surveillance report: Surveillance of antimicrobial consumption in Europe 2012. Stockholm: ECDC; 2014

Relatório de Monitorização da Resistência Bacteriana na Europa (ECDC): 2017

 

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