Bem-vindos à rubrica Veggie Mind, o espaço dedicado à partilha do meu percurso pelo veganismo e o impacto que este modo de vida tem em mim.
Chamo-me Margarida e estou a terminar a minha licenciatura em Relações Internacionais, contudo tenho muitas outras paixões para além desta área. Comecei por Artes e Arquitectura, estou a explorar as Ciências Sociais e Políticas e vibro com a área da Alimentação Sustentável. Na verdade, quando surgiu o veganismo na minha vida percebi qual a minha missão no mundo e a causa que vim abraçar.
Não houve um dia em que me tornei vegana mas sim uma fase em que fui “des-cobrindo” o veganismo em mim. Por norma, este modo de vida assenta em causas como potenciar a nossa própria saúde, respeitar os direitos fundamentais dos animais ou por questões ambientais, contribuindo para um planeta com um consumo mais sustentável.
Como a maioria das pessoas que me rodeavam, eu tinha a ideia pré-definida de que precisava de incluir alguns produtos animais na minha dieta para obter todos os nutrientes de que precisava. Assim, durante duas décadas, inclui ingredientes de origem animal nas minhas refeições, no entanto só conseguia comer aqueles que tinham passado por um processo tal que já nem se assemelhavam a um animal. Nunca consegui comer marisco, sardinhas, caracóis, entre outros, por ser impossível olhar para estes pratos e desconectar-me do facto de aquilo ser um animal (e que, na maioria das vezes, levou uma vida indigna para poder chegar ali). Na verdade, aquilo que eu sempre fiz foi desconectar-me do que comia para me inserir no meio onde nasci.
Mas será legítimo desligarmo-nos daquilo que somos para nos aproximarmos dos padrões desenhados pelos outros?
Decidi, então, procurar uma nutricionista com especialidade em nutrição vegetariana e, finalmente, desbloqueei a minha crença de que precisava de animais no meu prato para ser saudável. A partir deste dia, algures em Maio de 2015, nada me fazia mais sentido do que o vegetarianismo – deixar de contribuir para a industrialização dos animais, promovendo ainda mais a minha saúde. Comecei a estar mais tempo na cozinha e a explorar imensas receitas – coisa que nunca tinha feito, pois via a cozinha como um sítio impróprio onde se tinha a carne crua a temperar, o peixe com sangue em sacos de plástico ou o frigorífico com cheiro a queijo.
Comecei a descobrir muitos outros ingredientes e tornei a minha alimentação muito mais diversificada. Comecei a explorar a origem de tudo o que comia e a conectar-me verdadeiramente com isso.
Estava, finalmente, a comer de uma forma alinhada com os meus valores.
Assim, comecei também a perceber o quão emocional e social é o acto de comermos. Neste aspecto, o mais desafiante foi contornar a situação de não querer voltar a comer aquilo que a minha avó, num verdadeiro acto de amor, preparava para mim. No entanto, entendi que não é arrogância dizermos “não” aos outros para podermos dizer “sim” a nós próprios. Pior do que estar em conflito com os outros, é estarmos em conflito connosco mesmos.
Aprendi, também, a lidar com o facto de estar constantemente a comer algo diferente daqueles que me rodeavam, sentindo-me quase que de uma espécie diferente. Contudo, passei a encarar esta situação de uma forma mais produtiva – a qualquer lado que vá consigo expressar a minha singularidade e inspirar outros a fazê-lo também. Não tem preço viver a vida da forma que nós escolhemos vivê-la e na pele de quem nós verdadeiramente somos. Assim, percebi de que pessoas me queria rodear e inspirar e hoje sinto-me plenamente integrada e potenciada no meio onde eu escolhi estar.
Depois de me sentir alinhada com a minha alimentação, o passo seguinte foi o de expandir ainda mais o meu círculo de compaixão pelo próximo. Passei a ter atenção para não comprar produtos testados em animais e não fomentar o recurso a animais para entretenimento e diversão humana.
Tal como este modo de vida me ensinou, os animais estão no planeta comigo e não para mim.
Sejam autênticos e conectem-se com o impacto que têm no meio que vos rodeia!
Margarida Pereira