Pais & Filhos Veganos | Veggie Mind por Margarida Pereira

CAPAS - Veggie Mind por Margarida Pereira (4)

 

“Vais impor o teu estilo de vida aos teus filhos?”

A reflexão de hoje recai sobre esta pergunta, provavelmente familiar à maioria das pessoas que vive alinhada com os princípios do veganismo. Antes de mais, importa clarificar que o veganismo consiste num modo de vida que procura evitar (na medida do possível) qualquer tipo de exploração animal. Neste sentido, não só a alimentação é 100% vegetal, como também não se financiam actividades de lazer ou espectáculos com animais; roupas e acessórios de pele; cosmética ou outros produtos testados em animais…

O veganismo assenta na ideia de que nenhuma vida vale mais que outra.

Acreditamos que todas as vidas têm um propósito próprio, sendo que nenhuma veio ao mundo para servir exclusivamente outra. É certo que existe uma cadeia alimentar entre todos os animais, que promove o equilíbrio do ecossistema. No entanto, o ser humano parece reconhecer o seu poder como um direito – o de explorar industrialmente outros seres, encarando-os como produtos e esbanjando recursos naturais aparentemente finitos.

O Meio Ambiente

  • Estamos a criar cada vez mais animais para nosso consumo, desflorestando amplas áreas em virtude do cultivo de soja – o alimento para esses animais que, por sua vez, libertam o gás mais poluente e causador do efeito de estufa e aquecimento global (o metano). Visto que a natureza funciona coerentemente, uma alimentação que destrua o planeta não pode ser saudável para quem a pratica. Nenhuma espécie seria criada para se sustentar a si própria de uma forma insustentável para o meio onde vive.

A Fisionomia Humana

  • Estamos a desconsiderar o design humano que nos prepara para uma alimentação à base de produtos vegetais: a nossa dentição e maxilares arredondados; o longo comprimento dos nossos intestinos e o tipo de ácido que produzem; as nossas mãos características de um ser recolector; entre outros aspectos.

Efectivamente, a esta fisionomia acrescenta-se um cérebro com uma capacidade incrível para raciocinar e empreender. Neste sentido, podemos não ter as mandíbulas ou a velocidade características de outros seres, mas dotamo-nos de uma extraordinária capacidade para arquitectar utensílios e delinear estratégias que nos permitem caçar e ter domínio sobre animais que aparentemente seriam mais fortes do que nós. Sem dúvida que, apetrechados com aquilo que a nossa mente consegue projectar, somos um ser com um impacto inigualável no mundo. Contudo, a esta capacidade está intrinsecamente ligado um domínio ético e moral.

Estaremos a ignorar o facto de o nosso poder trazer consigo a responsabilidade de o usarmos de forma ética?

Penso que não seja legítimo recorrer ao poder para explorar outros seres e destruir o planeta que também será dos nossos filhos e netos. Posto isto, chegamos ao tema que é hoje alvo da nossa atenção.

Todos nós criamos os nossos filhos sob os ideais que defendemos. Todos nós lhes transmitimos os valores que mais prezamos, tentando educá-los da melhor forma que conseguimos. De facto, “As crianças são mensagens vivas que mandamos para um tempo que não veremos” e, por isso, é normal que quem defende um sistema alimentar impulsionador da saúde humana, do bem-estar animal, da justiça social e da sustentabilidade ambiental, o queira perpetuar. Para tal, nada melhor do que dar o exemplo e ensinar as gerações vindouras a fazer o mesmo.

Não se trata de impor o nosso estilo de vida aos nossos filhos, mas sim defender a supremacia da nutrição consciente – aquela que verdadeiramente nutre os consumidores, os produtores e todo o meio ambiente.

A Consciencialização

  • Questionar a razão pela qual a maioria das crianças leva na lancheira um bolo disfarçado de pão e um iogurte que combina leite de vaca, açúcar e conservantes. Não estimular mais o vício do açúcar e ingredientes processados. Explicar-lhes para que serve o leite materno e o que acontece na indústria para que o leite de uma mãe de outra espécie lhe chegue todos os dias à lancheira. Mostrar-lhes a origem dos seus alimentos. Educá-los para o amor-próprio e para a compaixão pelo próximo. Ensinar-lhes a escolher o que comer com base nesse amor pelo seu corpo.
  • Não estranhar a criança habituada a levar fruta, cenoura e pepino em palitos, frutos secos ou tomate cherry para o seu lanche. Só os nossos paladares educados para saciar a ganância da indústria nos tornam resistentes à mudança, à reconexão com a terra e com a verdadeira nutrição.
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Margarida Pereira, aos 4 anos de idade

Nesta fotografia, que aqui partilho convosco, eu tinha quatro anos de idade. Hoje representa um dos aspectos que mais me inquieta – sair à rua e ver estes padrões de comportamento normalizados. É importante tomarmos consciência de que a criança não escolhe por iniciativa própria aquilo que come. Não resolve comprar e provar o que quer que seja. Consome aquilo que lhe é dado ou segue o exemplo de quem a rodeia. Deste modo, sintam a responsabilidade que é moldar os hábitos alimentares de uma criança, que possivelmente a irão acompanhar por toda a sua vida.

Se nós, que já temos capacidade para escolher o que consumimos, ainda não nos conectámos com a origem e a qualidade do que ingerimos, cada refeição é uma nova oportunidade. Alimentarmo-nos é um ato de amor por nós mesmos. Optarmos por comer o que não provem do sofrimento animal é um ato de compaixão pelo próximo. Não presenteiem as crianças com produtos que não contribuem nem para a sua saúde, nem para a construção de um mundo mais ético.

Educar sob os princípios do veganismo é transmitir valores de liberdade, justiça, paz, amor e compaixão. É querermos tornar o mundo num lugar melhor e termos a coragem de começar por nós e pelos nossos.

Margarida Pereira

 

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