NA PRIMEIRA PESSOA: Marisa Lino

O Vitamina-te foi criado para pessoas reais que procuram resultados extraordinários. «Na Primeira Pessoa» é a rubrica de testemunhos. Hoje deixamos-vos o texto da nossa amiga Marisa Lino, que mostra o que é ter uma mente vitaminada!

Os meus
desafios são muitos. Mas são grandes porque a minha capacidade de os atingir,
porque sei, também é grande. Nasci
com uma deficiência motora. Um vírus que a minha mãe apanhou aos quatro meses de
gestação.

Tinha
tudo para não dar certo. Os meus pais não estavam à espera de uma filha com
problemas. Ninguem lhes disse ou simplesmente não quiseram dizer. Mas nasci.Não
foi fácil, mas nunca nada na vida dos meus pais foi fácil. Eu vim apenas ao
mundo para os pôr à prova. E consegui. Eles conseguiram. Hoje estou cá. Consigo
fazer aquelas coisas que os médicos, a maior parte deles não percebem nada de
doenças, diziam que eu não ia ser capaz.

Consigo
comer. Escrever. Falar. Só não consigo andar. Mas não faz mal. Porque é que se
tem de andar apenas com os pés? O que nos faz voar não são os pés, mas sim a
nossa cabeça. Nós queremos, logo nós podemos. É certo que não vivemos num País
fácil. Mas desde que nascemos que não é fácil. Não faz mal. Juntos
conseguiremos aquilo que queremos.

O que
mais me custa é viver num País que eu sinto que não me pertence. Não pertence à
pessoa que me tornei. Tenho vários sonhos, mas até chegar a eles tenho que
passar por demasiados obstáculos que me são postos à frente lá fora.

Quando
era pequena queria estudar. Estudei como é óbvio. Mas foram muitas as escolas a
que fui bater e que não estavam praparadas para me receber. Senti-me uma coisa
que aterrou aqui vinda de uma galáxia. Gente eu só precisava de ajuda para ir à
casa-de-banho! Sim, também tenho necessidades a fazer. Durante a escolaridade
foi assim. Paciência. Não foram mais teimosos que eu, consegui concluir o 12º
ano.

Agora
sou adulta. Quase 30 anos. E quero trabalhar. Fora de casa de preferência. Ver
gente. Sentir cheiros. Ouvir sorrisos. Mas e oportunidades? Não há. Para ninguém.
Para mim muito menos. Por mais que me esforce, que me mostre, elas não exisem.
Nunca trabalhei, mas quis e quero. Ainda estamos muito atrasados a nível de
mentalidades. Olham para mim, para nós e a primeira palavra que lhes vai à
cabeça é “coitadinhos”. Coitadinho é corno, como se costuma dizer. Não andamos.
Só! A cabeça funciona na perfeição.

Não
sou eu que sou deficiente, são os outros que me vêm como tal. Eu acordo todos
os dias da mesma forma. A primeira coisa que faço é sentar-me na cadeira de
rodas. Não acordo todos os dias e penso: “sou deficiente”. Não! Atrás de uma
cadeira de rodas está uma pessoa. Eu!

Não me
queixo. Não posso. Olho para o lado e vejo coisas piores. Pessoas piores. A
passarem bem mais necessidades do que eu. Sou uma privilegiada.

Não
tenho carro, nem carta. Não quero. Prefiro andar de comboio. De autocarro. A
pé. Prefiro chatear esses trabalhadores. Fazê-los ver que sou/somos gente.
Pessoas!

Hoje
tive a confirmação de mais uma barreira que consegui eliminar. Vou ter a tão desejada
plataforma elevatória para as escadas do prédio onde vivo. Durante muitos anos,
até agora digamos, para sair e entrar em casa estava dependente da condição
física do meu pai e da sua disponibilidade. Mas isso vai acabar. Com a
plataforma vou ser um pouco mais independente. Vou poder sair sempre que quiser
da forma mais autónoma possível. Estou tão contente. Mesmo! Mais um motivo para
ter orgulho em mim. Porque nós também podemos ter orgulho em nós.

A vida
não é nada se nós não quisermos. Temos de acreditar em nós. E nos outros.
Sentados
ou em pé, não importa. Nós queremos. Eu quero. Ser feliz!

Podem ler mais sobre a Marisa na sua página!

Deixa um comentário